“Como nossos pais”
 
Lais Bodansky é uma diretora que eu gosto muito. Desde que vi “Bicho de sete cabeças” e “Chega de saudade”, fiquei de olho no trabalho dessa paulistana.
E não me decepcionei com o novo filme “Como nossos pais”, um drama familiar feminino, com algumas e poucas ressalvas.
O trabalho de Lais, em parceria com o marido e roteirista Luiz Bolognesi, procura abrir um diálogo sobre o papel da mulher na sociedade. Aqui Rosa (Maria Ribeiro, tentando ser o menos carioca possível) é uma mulher casada com Dado (Paulo Vilhena), mãe de duas meninas na faixa dos 10 anos de idade e filha de Clarice (Clarice Abujamra) e Homero (Jorge Mautner).
Rosa, dona de uma alma livre, trabalha em um emprego enfadonho para sustentar a família, pois não pode contar muito com o suporte financeiro do marido, um idealista defensor dos índios, florestas, mares e baleias. Apesar de bom pai, Dado está mais viajando do que ajudando no dia a dia de Rosa.
Até que uma notícia bombástica, de que não é filha biológica de Homero, traz a tona um monte de questionamentos da protagonista em relação à sua mãe, ao casamento, aos seus sonhos e vontades e, principalmente, ao papel da super mulher que ela até agora exerceu.
O filme de Laís já começa tenso, com uma almoço em família onde os segredos revelados e as insatisfações pessoais de cada um é latente.
O roteiro, em parceria com Luiz, vai bem até dois terços do filme. Em algum momento fica chato, lento e parece que se perde, mas logo volta à ficar interessante enquanto os assuntos começam a ser resolvidos.
Cheio de diálogos profundos, “Como nossos pais” fala de mãe e filha, morte, traição, amor, casamento, filhos e principalmente de Rosa e seu papel no mundo.
Maria Ribeiro (por incrível que pareça) construiu sua Rosa com uma verdade que nos aproxima dela e, por isso, fez um bom trabalho. Jorge Mautner é Jorge Mautner. Um sonhador maluquete cheio de amor, ingenuidade e arte no coração.
Clarice Abujamra construiu uma mãe que sabe e sempre soube defender seus ideais e que nutre, por isso, uma admiração pelo genro Dado (Vilhena) o idealista.
Talvez o amigo de Rosa, Felipe, fosse dispensável na trama. Assim como o encontro insosso com o pai biológico vivido por um Herson Capri que parece que foi até ali gravar um filme sem entender direito seu papel na trama.
Mas entre trancos e barrancos, “Como nossos pais” é um filme que me encantou, comoveu e até me trouxe alguma identificação com a minha vida real. Porque não podemos mais viver à margem das nossas necessidades, sem dividir as funções, portanto, acumulando um trabalho que não é mais só nosso. Não somos perfeitas, unipresentes ou super mulheres. Este é um papel que não nos cabe mas que ainda acontece. 
Somos mulheres e queremos ser protagonistas das nossas vidas.
Estréia prevista para 31 de agosto.

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