Não acho fácil escrever sobre um filme cuja história esteja além da realidade que eu vivo. Os filmes classificados “ficção científica” sempre me desafiaram em vários sentidos. Um deles, e talvez o principal, seja entender e acolher um enredo que admita tantas possibilidades que me surpreendem e confundem.
Quando vi “Blade Runner”, a versão de 1982 dirigida por Ridley Scott, era uma jovem apaixonada por cinema e com pouco entendimento da estética cinematográfica e da proposta futurista que ali se apresentava. E acolhi o filme como um romance do futuro e depressivo cheio de signos que eu só pude entender mais tarde, quando estudei e revi o longa várias e várias vezes no meu velho vídeo cassete.
E foi com grande expectativa e surpresa que recebi a continuação do Caçador de Andróides, agora na versão de Dennis Villeneuve (“A Chegada”) cujo respeito e reverência pelo diretor do original Ridley Scott, que assina a produção executiva, ficam evidentes desde o início da projeção.
“Blade Runner” agora se passa no ano de 2049, trinta anos após o primeiro filme. Aqui o caçador de androides K (Ryan Goslyng) começa a investigar um caso de replicantes, agora fabricados pela indústria de Niander Wallace (Jared Leto) e cujo passado se mistura ao presente levando à Deckard (Harrison Ford) e a segredos não revelados sobre a história de amor entre ele e Rachel. Fica difícil falar da narrativa do filme sem spoiler, mas o que importa e interessa é o espaço que a narrativa abre para dar continuidade à questionamentos existenciais levantados no primeiro filme que, nessa sequência, encontram caminhos para se expressar novamente e dar, até, um sentido maior à versão de 82.
A parte estética do filme é maravilhosa, deslumbrante. Como se cada cena fosse desenhada. Alguma sequências, apesar do sempre tom cinzento, frio, molhado e sujo, são de encher os olhos pela beleza da fotografia. É muito interessante quando a direção de arte mistura passado e futuro confundindo imagens holográficas e objetos de cena ao som de Sinatra ou Elvis. Essa invenção de um futuro caótico pode ser ao mesmo tempo esteticamente atraente e muito perturbadora.
Comparando “Blade Runner” 2019 com 2049, não percebi excessos que possam distoar um do outro. O filme corresponde, esteticamente e em essência, à versão de Ridley Scott mas sem perder a identidade de Villeneuve, que fez uma direção correta. Ambos os filmes, apesar de produzidos em tempos diferentes, conseguem conversar entre si. Isso, portanto, produz uma continuação eficiente e sem exageros ou apelos comerciais.
Talvez a importância da versão 2049 seja menor porque os tempos são outros. Blade Runner trouxe em 1982 uma linguagem narrativa e estética inovadoras. Por isso é tão reverenciado. Mas Blade Runner 2049 certamente encontrará seu espaço e seu significado como uma sequência necessária.
Estréia prevista para 5 de outubro.
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