“A Forma da Água”
Uma das coisas que eu mais gosto é sair da sessão de cinema feliz com o filme que acabei de assistir. Hoje foi uma dessas vezes. “A Forma da Água” é uma delícia e eu explico o motivo.
Em primeiro lugar o diretor mexicano Guilherme Del Toro, assim como seus conterrâneos Alfonso Cuarón e Alejandro Iñárritu, está com a bola toda este ano. Isso me faz pensar que o México tem produzido artistas capazes e talentosos há algum tempo. O filme de Del Toro levou os prêmios mais importantes nas temporadas de premiação deste ano: Globo de Ouro, Festiva de Veneza, Prêmio de crítica e Sindicato dos produtores além das 13 indicações mais importantes da festa do Oscar que acontece dia 4 de março.
Todo mundo sabe, eu já expliquei isso, que premiações são muitas vezes estratégias de marketing bem sucedidas. Porém nada desmerece o filme.
Em segundo lugar o filme fala de xenofobia e empatia com o diferente, o que já é uma grande coisa.
A história gira em torno de Elisa (Sally Hawkins) uma mulher aparentemente frágil que trabalha como faxineira em um laboratório no mínimo estranho e sinistro. Ela e a colega Zelda (Octavia Spencer) são responsáveis por manter o ambiente limpo e mantém uma relação de amizade e proteção uma vez que Elisa, apesar de ouvir perfeitamente, é muda.
Um dia uma criatura estranha, uma espécie de homem anfíbio, vinda das águas de algum lugar da Amazônia, chega ao laboratório para ser analisada como possível arma contra os russos e quem sabe ser eventualmente enviada à lua como resposta à cachorra Laika. Tudo isso em plena guerra fria. Então Elisa e a criatura desenvolvem uma relação de amor fora do comum que resulta na aventura mútua de um salvar a vida do outro.
Com a ajuda do melhor amigo GIles (Richard Jankins) e do cientista Hoffstetler (Michael Stuhlbarg), Elisa e Zelda resolvem agir enquanto o malvado Stricklend (Michael Shannon, excepcional no papel de vilão) tenta impedir que o plano dê certo.
O conto de fadas entre Elisa e a criatura é tão poeticamente retratado pela direção de arte impecável que nos faz ter vontade de morar dentro do filme. Pra começo de conversa Elisa mora em cima de um cinema onde são exibidos filmes que o diretor quis homenagear. Seu vizinho e amigo Giles é fã de musicais e desfila Bojangles , Shirley Temple e Carmem Miranda na pequena televisão que mantém ligada enquanto pinta retratos para publicidade. Quer ambiente mais aconchegante do que esse ? E olha que o edifício é velho, sujo e até decadente.
Todo o desenrolar da história recria os lugares que o diretor gosta de visitar: ambientes onde se mistura fantasia e realidade com uma pitada de maldade, violência e afeto.
Porém é interessante perceber como o diretor Guilherme Del Toro conseguiu fazer deste um filme onde cenas de nudez, masturbação, sexo, ambientes inóspitos e violência não são obstáculos para perder a magia da fábula e da poesia. Mesmo aqui onde os personagens principais retratam pessoas que estão à margem da sociedade e, supostamente, deveriam ser amargas e infelizes, a gratidão, amizade e o amor reinam de forma absoluta.
A trilha sonora envolve desde a primeira cena. Só música boa. E talvez a qualidade da trilha seja um dos fatores principais para desenhar a dramaticidade e os subtextos de cada personagem, tão bem construídos que a história de cada um daria um e novo filme.
As passagens entre uma cena e outra, com gotas de água, é ao mesmo tempo criativa e tem tudo a ver com o tema do filme.
“A Forma da Água” é um daqueles filmes tão maravilhosos que a vontade que dá é nunca mais parar de falar sobre ele.
A estreia está prevista para o dia 1 de fevereiro.
(stella.domenico@hotmail.com)
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