O que define um filme não pode ser apenas a avaliação técnica do mesmo. Mas tudo que está ali, inclusive a técnica escolhida, revela e desperta sentimentos sobre ele.

“Corpo e Alma” é um filme húngaro que tem despertado atenção de quem o vê. Não porque a diretora IIdikó Enyedi resolveu filmar da maneira mais crua e nua possível a história de Mária e Endre, dois personagens machucados por motivos distintos que se cruzam no trabalho e descobrem, em uma situação que deveria ser íntima para ambos, que sonham o mesmo sonho.

A partir disso, os dois passam a tentar criar uma relação de convivência mínima ou até de intimidade que não lhes é nem nunca foi comum. Parece mais um desses programas de gente esquisita que a gente vê toda hora no Discovery Channel, porém são pessoas que existem na sua complexidade e aí fica difícil definir com um rótulo qualquer para facilitar a vida do espectador. Não é um romance, nem um drama ou um suspense psicólogico. É um filme altamente sensorial e que trata de assuntos da intimidade de duas pessoas que passam a dividir, através do sonho em comum, anseios, medos, pavores, vontades e até desejos.

O interessante é que a história se passa no ambiente duro, cruel e sangrento de um matadouro. Como uma analogia ao viver. E apresenta um desfile de pessoas estranhas, cada uma com uma particularidade, que deixa o ambiente mais hostil, frio, cinzento e triste.

“Corpo e Alma” não é um filme fácil e muito menos leve. Mária e Endre são pessoas sempre em busca de alguma coisa que dê algum sentido às suas vidas. O desespero pelo aconchego final é tão latente que incomoda. O filme é concebido com tanta falta de afeto que inclusive  faz com que o espectador nunca se sinta acolhido. Há falta de elementos (propositais, claro) para que isso não aconteça como a falta de trilha sonora, música incidental ou o próprio excesso da falta de poesia representado pelo dia a dia monótono, comum e solitário dos dois.

Outro contraponto interessante é que apesar da história se passar em um matadouro, o sonho do casal protagonista se concentra em uma floresta gélida e o casal se projeta como cervos. Se na vida real os animais são mortos da forma mais cruel possível, nos sonhos eles estão vivos e convivem em um ambiente, selvagem, mas de cooperação.

Um filme que, certamente, pode não agradar. Mas vai incomodar. Então, o filme cumpriu sua função.

A estreia está prevista para o dia 21 de dezembro.

(stella.domenico@hotmail.com)

 

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